25/08/2010

Almoço em família

as já famosas bruschetas do Ro
Como muitas outras, minha família se reúne em torno da mesa em datas festivas. O diferencial, em nosso caso, fica por conta do foco: enquanto para as outras a comida não passa de pretexto para o convívio, na nossa os encontros são sempre a desculpa perfeita para apreciarmos uma boa comida. Fazemos parte de uma nobre linhagem de glutões, que durante muitos anos foram alimentados pela matriarca, minha mãe. Atualmente, como ela se encontra impossibilitada de cozinhar, os serviços de copa e cozinha estão mais descentralizados. Sempre, antes de qualquer encontro, há conferências por telefone para se decidir quem fará o que. Geralmente sou solicitado para dar soluções criativas às sobremesas. Minha irmã Gisele vem se especializando em pratos principais, sempre fartos, bem decorados e - o que é mais importante, deliciosos. Meu pai gosta de preparar acompanhamentos (o arroz branco dele é imbatível). Minha sobrinha, Renata, tem se mostrado bastante entusiasmada pelo livro de receitas do Jamie Oliver, recebendo incentivos do tio para se dedicar à área de entradinhas. Meu irmão, Júnior, até esse almoço específico de que passo a tratar agora, sempre se preocupou apenas em comer - e bem!

a carne com cores lusitanas de minha irmã
No último dia das mães, tivemos um encontro quase típico. Minha irmã apresentou uma carne assada com batatas, cebolas e tomates que nos fez lembrar bastante aquelas "casas portuguesas com certeza". Apesar de não termos ascendência direta - com excessão de minha sobrinha, neta de portugueses por parte de pai - desconfiamos seriamente, devido ao sobrenome Pinto (típico dos cristãos novos lusitanos) que nossas raízes ibéricas são bem fortes e atuantes. Meu pai, para não perder o hábito, fez um delicioso arroz soltinho. Eu estava com preguiça e não preparei sobremesa, aproveitando para levar as bruschetas do Ro que tinham sido feitas no dia anterior Lembro que o Ro, apesar de não ter nascido entre nós, é um legítimo Pinto que eu encontrei (com trocadilhos, por favor), com todas as características familiares descritas acima. Nessa ocasião a Renata não preparou nenhuma receita do Jamie..

detalhe da torta-sensação de meu irmão
A grande surpresa do dia ficou por conta de meu irmão, que chegou trazendo, pela primeira vez na história da família, um prato preparado por ele: uma torta de maçã feita com a fruta cortada em rodelas, cobertas com leite condensado e canela. De fazer hummmmm e chamar os cachorros (a referência não é gratuita, uma vez que a receita foi aprendida no programa de Ana Maria).

Concluo que, em se tratando de família Pinto, a sina sempre passa pela cozinha...


Fazendo 33 no Fiorino

No meu aniversário, em março, fomos comemorar no Fiorino, na Tijuca. Eu já queria conferir a casa há muito tempo, desde que passei pela Heitor Beltrão pela primeira vez à noite, reparando na bela iluminação do jardim. O Ro decidiu então me surpreender com um jantar lá. A casa faz o estilo italiano chic, bem ao largo das cantinas com sotaque macarrônico escrachado à la novela das nove. Quero registrar, no entanto, que também gosto muito dessas casas recheadas de mamas e nonas, regadas com fartas doses de poluição visual e sonora. O fato de me referir a elas aqui se deve apenas à necessidade de reforçar, pelo contraste, a linha seguida pelo Fiorino, o mais extremo oposto delas:  decoração sóbria e contida, serviço correto, música discreta. Porém, o que é mais recompensador nesta casa é que não precisamos pagar pelo estilo: o restaurante serve massas excelentes, relativamente fartas, a um preço bem em conta. Talvez por não trabalhar com cartões de crédito ou débito (o que deve baratear os custos), talvez apenas por honestidade, mesmo.

Mas vamos ao comentário dos pratos, que é o que mais interessa! Eu fui de talharim ao molho funghi. Tão gostoso, mas tão gostoso, que até hoje sinto o perfume dele me preenchendo as narinas e a boca logo fica inundada. O Ro foi de raviole de vitela ao molho branco (ou de queijo, já não estou muito certo). Apesar de o prato não ser meu, provei muitas vezes e também fiquei com seu sabor refinadíssimo marcado na memória.

De sobremesa, uma das invenções mais deliciosas entre todas as criadas pelas casas do Rio: gelado de chocolate. Uma mistura hipnotizante de chocolate, doce de leite, biscoito, café e castanhas (fico devendo uma foto).

Confesso que, apesar de já terem se passado cinco meses desde que desgustei esses pratos, sinto que corro o risco de me engasgar com tanta água na boca, só de lembrar... Vale muito a pena, principalmente para os amigos que moram do lado de cá do túnel.